Árvore que tem 200 anos está exposta na praça principal da cidade do litoral Norte capixaba para protestar contra o desmatamento da Mata Atlântica para plantio de eucalipto para indústria de celulose.
Distante cerca de 270 km de Vitória a pequena Itaunas é o mais novo pólo de turismo do Espírito Santo. Na fronteira com a Bahia a cidade faz Riacho Doce, onde foi gravada mini-série homônima exibida em 1990 pela Rede Globo. Inspirada no romance do escritor José Lins do Rego, Riacho Doce tinha no elenco a participação de Vera Fischer, Carlos Rivellino, Fernanda Montenegro, Luiza Tomé entre outros atores.
Pequi gigante
Na praça da Vila de Itaunas, distrito de Conceição da Barra(ES), em frente à Igreja de São Sebastião, foi colocado um tronco de 15 metros de uma espécie de pequi pouco conhecida pelos goianos: o Pequi-vinagre, espécie de grande porte, comum na mata-atlântica da Bahia, Rio de Janeiro e norte do Espírito Santo. Seus frutos não são comestíveis como outras espécie de pequi.
Segundo o secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico de Conceição da Barra, André Luiz Campos Tebaldi, o tronco do pequi-vinagreiro tem aproximadamente, 200 anos. A madeira foi levada de uma região de brejo ao redor do vilarejo até a Praça Central, no início da década de 90, para protestar contra desmatamento na Mata Atlântica local, em que madeiras nobres era retiradas para o comércio e espécies de menor valor, como o pequi-vinagreiro, eram deixadas para trás.
“Na época, a equipe de proteção do parque da vila teve a ideia de levar o tronco até a Praça Central por que, apesar de não ser considerada como madeira nobre, é algo que tem que ser preservado para relatar a história. Foi a partir do desmatamento que começou o plantio de eucalipto na região em que agora se desenvolve a silvicultura. Na época, eles fizeram um pedido à Petrobras, que teria guindastes maiores, para conseguir levar o tronco, que é tão grande e pesado”, disse Tebaldi, em entrevista à jornalista Michelli Boza, do jornal A Gazeta.
A indústria da celulose é uma das principais fontes de renda no Espírito Santo, mas também, uma das maiores vilãs da Mata Atlântica. Fundado em 21 de setembro de 1544, São Mateus, municipio vizinho a Conceição da Barra, convive a 50 anos com a indústria da celulose. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) São Mateus, no Norte do Espírito Santo, como o 6º maior município produtor de madeira em tora para papel e celulose no país.
Outro grande produtor-desmatador é o municipio de Aracruz, também no Norte capixaba, com 242 mil hectares de eucalipto plantado, que foi até 2014, o maior produtor mundial de celulose.

Tronco de Pequi-Vinagre exposto na praça da vila de Itaúnas
Exemplo
O tronco de pequi de Itaúnas mede cerca de 15 metros. e sua circunferência na base da madeira precisaria de 15 a 20 pessoas para ser contornada. A parte em que ficava a copa da árvore poderia ser completada com cerca de oito pessoas.
A árvore antiga marca a época de desmatamentos no local, mas não tem marcas de corte. O secretário explica que as raízes do pequi-vinagreiro, que não dá frutos comestíveis, são rasas e, devido ao peso e ao local em que foi encontrado, em uma região de brejo, deve ter tombado devido por causa da movimentação de maquinários durante o desmatamento e queima do que havia restado no local, a fim de aproveitar a região desmatada.
No cerrado goiano o avanço das lavouras de soja e de cana-de-açúcar fizeram tombar milhares de pés de pequi, árvore que está intrinsicamente ligada à cultura e à gastronomia do Estado. Talvez esteja passando da hora de prefeitos goianos imitarem o exemplo de Itaunas e fazer da árvore um monumento contra a destruição de nossa biodiversidade pela monocultura exportadora.
Atração
O tronco de pequi de Itaunas está na Praça Central desde o início da década de 90 e recebeu iluminação de refletores a pouco tempo. Tebaldi frisa que a madeira nunca foi alvo de vandalismos que degradassem a estrutura, mas que algumas pessoas aproveitavam que o tronco é oco e usavam o “túnel” para uso de drogas e até mesmo para defecar.
Mas o secretário também diz que, depois que o local foi iluminado, situações assim diminuíram e o tronco antigo do pequi-vinagreiro é muito apreciado pelos turistas, que gostam de fotografar o local, além de atração para as crianças, que aproveitam a estrutura para brincar.
“O tronco não tem um cuidado especial, está exposto ao tempo, mas resiste. E agora com iluminação, além de diminuir os casos de vandalismo, o local ficou visualmente valorizado”, finaliza.
Arte
O designer Hugo França, Desde o final da década de 1980 transforma madeira descartada pela movelaria tradicional ou condenada naturalmente em bancos, cadeiras, mesas, aparadores, prateleiras e adornos, batizados de esculturas mobiliárias.
A história de Hugo França com a madeira começa há quase três décadas. Ansioso por um novo estilo de vida, mudou-se para Trancoso/BA, onde viveu por 15 anos. Lá descobriu o pequi-vinagreiro, árvore comum na Mata Atlântica baiana, mas pouco útil na marcenaria usual por ser muito irregular.
Começou, então, a aproveitar raízes desenterradas, troncos ocos, galhos e o que mais encontrasse para criar peças únicas, que valorizam as texturas e formas naturais dessas plantas a princípio rejeitadas.
Rústicos, mas muito aconchegantes, os bancos convidam os visitantes a uma pausa l Foto: Rossana Magri. Fonte: Instituto Inhotim.
Os primeiros cortes são feitos onde a madeira é encontrada e não é à toa. Alguns blocos chegam a pesar acima de uma tonelada e precisam ser divididos para serem transportados. Ainda na mata, já começam a se transformar em bancos e mesas e são finalizados em uma das oficinas de Hugo França. De lá, suas esculturas seguem para o mundo.
Além de figurar entre coleções particulares, como a do Inhotim, seu trabalho já foi apresentado em uma extensa lista de instituições, como o MAD Museum, em Nova York; o Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo; a Art Rio, no Rio de Janeiro e atualmente o Fairchild Tropical Botanic Garden, jardim botânico localizado em Miami, nos Estados Unidos.
Com informações da Gazeta, Ibama e Instituto Inhotim
.