Câmara de Goiânia pressiona pela reabertura do comércio no momento de aumento de casos do covid19.

Câmara de Goiânia pressiona pela reabertura do comércio no momento de aumento de casos do covid19.

Os vereadores pressionam a prefeitura de Goiânia a ampliar a flexibilização das atividades econômicas no município, mas especialistas alertam que isolamento na Capital é baixo, na faixa de 35% e que o ideal, para reduzir a curva das infecções pelo coronavírus seria de 50% a 55%. Fica a pergunta: os vereadores vão ajudar a contar os mortos?

Os vereadores goianienses estão caminhando na contramão das recomendações das autoridades de saúde do Estado e do município.  Os últimos números mostram avanço do covid19 em Goiânia, conforme mostram os boletins diários das secretarias municipal e estadual de saúde. Também vale observar matéria do jornalista Márcio Leijoto, de O Popular, que registra aumento nas contaminações por coronavírus desde que foi realizada a flexibilização no dia 19 de abril, através do decreto do governo do Estado, onde Goiânia passou de 231 para 3.229 infectados (alta de 1.400%) e a vizinha Aparecida de Goiânia 12 para 1.050 (alta de 8.000%).

Entre a flexibilização no dia 19 de abril até o dia 13 de junho, número de infecções em Goiânia cresceu quase 1.400% – Infográfico O popular/Reprodução

Risco de 5 mil mortes

Única brasileira e latino-americana junto à OMS, Cristina Toscano é doutora em infectologia e participa do esforço global da entidade para o controle do covid19 e para construção de uma vacina para a pandemia, que envolve 121 países e instituições em todo o mundo.

Dra Cristina apresentou ontem, em Aparecida de Goiânia, durante videoconferência com outros cientistas e especialistas,  um modelo estatístico no qual acompanha a evolução do coronavírus em todo o Estado. Ela observa que Goiás acertou em ser um dos primeiros estados a fazer o isolamento social, mas entende que desde a flexibilização para atividades econômicas, a partir de 19 de abril, aumentou o número de infectados.  Atualmente o Estado tem cerca de 35% de isolamento social, quando na sua avaliação o mínimo deveria ser de 50%. Se não houverem medidas para ampliar o isolamento, existe a possibilidade de que o número de mortes pode crescer exponencialmente, e na pior hipótese o Estado registrar 5 mil óbitos até o final do mês de julho.

Considerações da Dra. Cristina Toscano em videoconferência sobre o aumento das infeções pelo covid19

 

Pressão sobre a prefeitura

Em parceria com outros parlamentares, o vereador Lucas Kitão apresenta nesta quarta-feira (17/06) um projeto para reabertura do comércio de Goiânia. A justificativa, segundo ele, é fundamentada na falta de atitude da Prefeitura de Goiânia em combater o novo coronavírus e, paralelamente, auxiliar a sobrevivência dos empresários da capital.

“A gente legisla hoje em cima da omissão da Prefeitura. Infelizmente, vamos para mais de 90 dias de isolamento e a Prefeitura de Goiânia não apresentou à população um plano de combate ao Covid-19, nem de retorno aos comerciantes”, afirmou o vereador.

Em entrevista à Rádio Bandeirantes 820 na terça-feira (16/07), o vereador destacou que a Câmara Municipal de Goiânia tomou essa iniciativa usando Aparecida de Goiânia como exemplo, que permite o funcionamento dos centros comerciais em regime de escalonamento.

“O projeto de decreto legislativo é muito parecido com o exemplo prático que temos em Aparecida. Tenho feito visitas ao município e vejo que está funcionando, porque a doença tem sido combatida e os comerciantes têm tido a oportunidade de sobreviverem e manterem seus empregos”, argumenta.

Modelo em teste

O que o vereador Kitão e outros ainda não levaram em conta é que a experiência de lockdown por zona/bairro em Aparecida de Goiânia é acompanha do grande número de testagem na população, o que permite avaliar semanalmente a evolução do número de casos. O secretário de saúde de Aparecida, Alessandro Magalhães também está atento ao número de leitos de enfermaria e de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do município, que por enquanto, atende as necessidades atuais do número de infectados.

Questionada sobre o modelo de lockdown regional, no qual o município de Aparecida dividiu a cidade em dez macro regiões, fechando completamente duas a cada dia da semana, a Dra. Cristina Toscano diz que este modelo já foi adotado por países com mesma dimensão territorial de Goiás e noutros estados como o Rio Grande do Sul, mas não tinha conhecimento deste tipo de experiência num município. Ela enfatiza que neste momento em que os casos de infecção estão em alta é preciso vigilância para ver se este modelo (lockdown regional) se mantém estável, ou se será necessário reduzir a flexibilização.

A abordagem da Câmara de Goiânia é simplista, e não está atenta a experiências equivocadas de flexibilização como em Blumenal (SC), onde após a abertura do comércio e dos shoppings, o número de contaminados pelo coronavírus. Havia 68 casos em 13 de abril, quando o comércio reabriu na cidade no dia 28 daquele mês, foram 177, uma alta de 160%. Imaginem o impacto para saúde pública em Goiânia com a abertura total da Feira Hippie e do Comércio da 44?

 

Prefeito se manifesta

Diante da pressão dos edis e do empresariado, o prefeito Iris Rezende (MDB) anunciou que está estudando uma flexibilização gradual do comércio e serviços em Goiânia. “Vamos seguir até que a situação já ofereça a oportunidade para que todas as instituições estejam abertas”, disse em coletiva, acreditando que tal situação não deve demorar.

O secretário de Governo Paulo Ortegal adiantou que o decreto de flexibilização assinado pelo prefeito seguirá acompanhado de nota técnica da Saúde e estudos de impacto por segmento, além dos protocolos de segurança. A partir daí, a cada semana ou 15 dias, no máximo, poderão ocorrer novas aberturas, desde que dentro dos protocolos. “Esperamos o apoio da população nessa tarefa que é de todos. Novas aberturas dependem da ajuda de todo mundo”, resume.

Com informações da Ascom Câmara, Secom Goiânia, O Popular e G1.

 

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