Alienação eleitoral bateu recorde no segundo turno.
Em duas cidades brasileiras, mais de metade dos eleitores aptos a votar não compareceram às urnas, anularam o voto ou votaram em branco no último domingo (29). Essas três atitudes compõem o conceito de “alienação eleitoral”, que bateu recorde no segundo turno do pleito municipal de 2020, conforme levantamento feito pelo Valor Econômico com base em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A taxa de eleitores que não escolhem candidato nenhum neste segundo turno alcançou 53,9% em Campinas (SP) e 51% em Petrópolis (RJ). Entre as capitais, o Rio de Janeiro se destaca, com alienação de 47,6%. O. A Justiça Eleitoral desconsidera a alienação na hora de divulgar os resultados e conta apenas os votos válidos recebidos pelos candidatos.
Para o deputado federal Pedro Paulo (DEM-RJ), colaborador do prefeito eleito do Rio, Eduardo Paes (DEM), o fenômeno das altas abstenções foi nacional, mas existem razões locais. “No Rio, (houve) calor, sol, medo da segunda onda do coronavírus. Ainda não temos o mapa por bairros – mas, se recortar por zonas eleitorais, há áreas com uma população mais idosa, que compareceu menos”, diz. “É a realidade da pandemia muito menos, acredito eu, do que uma insatisfação em relação ao processo político. É mais a conjuntura, as pessoas estão com medo. E há também a facilidade de justificar a ausência.”
O cenário de pandemia de Covid-19– que, desde fevereiro, matou 173 mil pessoas no País – ajuda a explicar por que parte da população optou por ficar em casa em vez de ir votar. O Rio, por exemplo, é a capital com a maior proporção de idosos. O voto não é obrigatório para quem tem mais de 70 anos de idade. Pessoas com mais de 60 anos são consideradas grupo de risco para a Covid-19.
Esse fator não conta, no entanto, toda a história a respeito dos índices de brasileiros optando por não participar da escolha de um dos dois candidatos que estavam no segundo turno em cada uma das 57 cidades onde houve disputa no domingo. Municípios onde as pesquisas de intenção de voto indicavam um líder isolado tiveram níveis maiores de alienação.
45,6% não votaram em Goiânia
Nesse caso, segundo o cientista político Guilherme Russo, pesquisador do Centro de Política e Economia do Setor Público da Fundação Getulio Vargas (FGV Cepesp), o eleitor não sente que seu voto vá fazer diferença no resultado e tende a não votar. É o caso do Rio, em que Eduardo Paes (DEM), às vésperas da votação, tinha 40 pontos de vantagem em votos válidos em relação a Marcelo Crivella (Republicanos). Aconteceu também em Piracicaba (SP), que teve alienação de 46%; em Goiânia (GO), onde o indicador bateu em 45,6%; e em Ribeirão Preto (SP), com 44,7% de alienação.